PARA O ATOR – MICHAEL CHEKHOV IV

CAPÍTULO 4: ATMOSFERA E SENTIMENTOS INDIVIDUAIS:

Existem numerosos meios, puramente teatrais, pelos quais se criam atmosferas no palco, ainda que não sejam indicados pelo autor, luzes com suas sombras e cores; cenários, com seus contornos, aparências e formas de composição; efeitos musicais e sonoros; agrupamentos de atores, suas vozes, com toda uma variedade de timbres, seus movimentos, pausas, mudanças de ritmo, todas as espécies de efeitos rítmicos, marcações e maneiras de atuar. Praticamente tudo que o público percebe, no palco pode servir ao propósito de realçar atmosferas ou mesmo recriá-las.

Sabe-se que o domínio da arte é, primordialmente, o domínio dos sentimentos. Uma boa e verdadeira definição seria que a atmosfera de cada peça de arte é o seu coração, sua alma sensível. Por conseguinte, é também a alma, o coração de todas e de cada performance no palco. (…) Uma performance desprovida de suas atmosferas gera a impressão de um mecanismo. Mesmo que o público seja capaz de apreciar a excelente técnica e habilidade dos artistas e do valor da peça, poderá, não obstante, permanecer frio, sem que todo o desempenho o impressione ou comova. (…)

Crédito das fotos: Rodrigo Lopes

A grande missão do ator, assim como a do diretor e a do autor teatral, é salvar a alma do teatro e, concomitantemente, o futuro da nossa profissão. Os verdadeiros sentimentos artísticos, caso se recusem a aparecer por si mesmos, devem ser induzidos por algum recurso técnico que faça o ator adquirir o controle sobre eles.

Levante um braço. Abaixe-o. O que foi que você fez? Executou uma simples ação física. Fez um gesto. E o fez sem qualquer dificuldade. Por quê? Porque, como toda e qualquer ação, esse gesto está completamente dentro da sua vontade. Agora execute o mesmo gesto, mas, desta vez, matize-o com uma certaqualidade. Seja essa qualidade a cautela. Você fará o seu gesto, o seu movimento cautelosamente.

Não o fez o mesmo desembaraço? Repita-o várias vezes e veja então o que acontece. Seu movimento, feito cautelosamente, deixou de ser mera ação física; agora ele adquiriu uma certa nuança psicológica. Que é essa nuançe? É uma sensação de cautela que agora enche e impregna o seu braço. É uma sensação psicofísica. Do mesmo modo, se movimentar seu corpo inteiro com a qualidade da cautela, então seu corpo todo será naturalmente invadido por essa sensação.

A sensação é o vaso onde seus sentimentos artísticos genuínos são despejados facilmente e por si mesmos; é uma espécie de magneto que atrai para si sentimentos e emoções análogos à qualidade, seja ela qual for, que você escolheu para o seu movimento.

Pergunte-se agora se forçou os seus sentimentos. Deu a sim mesmo a ordem de “sentir-se cauteloso”? Não. Você apenas fez um movimento dotado de uma certa qualidade, criando assim uma sensação decautela através do qual despertou seus sentimentos.

Repita esse mesmo movimento com várias outras qualidades e o sentimento, o seu desejo, será cada vez mais forte.

Aqui está, pois, o mais simples recurso técnico para despertar seus sentimentos se eles se tornarem obstinados, caprichosos e se recusarem a funcionar exatamente quando você necessita deles em seu trabalho profissional.  (…) Mas, perguntará você, como aplica tudo isso quando o corpo se encontra em posições estáticas? Qualquer posição do corpo pode ser impregnada de qualidades, exatamente como qualquer movimento.

Tudo o que você precisa dizer para si mesmo: “Vou ficar de pé, sentar-me ou deitar-me com esta ou aquela qualidade em meu corpo”, e a reação virá imediatamente, convocando um caleidoscópio de sentimentos desde o mais íntimo de sua alma

Crédito das fotos: Rodrigo Lopes

Pode facilmente acontecer que, enquanto trabalha uma cena, um ator fique em dúvida em que qualidade, que sensação terá que escolher. Em face de tal dilema, não hesite em adotar duas ou mesmo três qualidades para a sua ação. Pode experimentar uma após a outra em busca daquela que será a melhor, ou combiná-las todas de uma só vez. Suponhamos que você adote a qualidade do abatimento e, ao mesmo tempo, as qualidades de desespero, reflexão ou cólera. Seja qual for o número de qualidades adequadas que selecione ou combine, elas se fundirão sempre numa única sensação para você, à semelhança de um acorde dominante em música.

  1. A ATMOSFERA INSPIRA O ATOR.
  2. UNE O PÚBLICO E O ATOR, ASSIM COMO OS ATORES ENTRE SI.
  3. APROFUNDA A PERCEPÇÃO DO ESPECTADOR.
  4. NÃO PODEM COEXISTIR DUAS ATMOSFERAS CONTRASTANTES. MAS OS SENTIMENTOS INDIVIDUAIS DAS PERSONAGENS, AINDA QUE CONTRASTEM COM A ATMOSFERA, PODEM EXISTIR SIMULTANEAMENTE COM ELA.
  5. A ATMOSFERA É A ALMA DA PERFORMANCE.
  6. OBSERVE A ATMOSFERA NA VIDA.
  7. IMAGINE A MESMA CENA COM DIFERENTES ATMOSFERAS.
  8. CRIE ATMOSFERAS À SUA VOLTA, SEM QUAISQUER CIRCUNSTÂNCIAS DADAS.
  9. MOVIMENTE-SE E FALE EM HARMONIA COM A ATMOSFERA QUE CRIOU, SEJA ELA QUAL FOR.
  10. IMAGINE CIRCUNSTÂNCIAS ADEQUADAS PARA A ATMOSFERA QUE CRIOU.
  11. ORGANIZE NUMA “TABELA” AS ATMOSFERAS QUE CRIA.
  12. CONCRETIZE MOVIMENTOS DOTADOS DE QUALIDADES-SENSAÇÕES-SENTIMENTOS.
RESUMO DO LIVRO “PARA O ATOR” DE MICHAEL CHEKHOV

Postado por:

Maytê Piragibe